Protectores Solares por Leonor Girão


Nos últimos anos temos assistido a uma preocupação crescente com o ambiente e com o que nos rodeia. A consciencialização de que podemos intervir activamente no nosso bem-estar tem vindo a aumentar e há, efectivamente, uma procura de melhores comportamentos em relação à saúde.
Existem inúmeras evidências sobre o impacto negativo da radiação solar na saúde humana, nomeadamente no sistema imunitário, no aparecimento do foto envelhecimento cutâneo (envelhecimento provocado pela exposição à radiação solar) e no desenvolvimento de cancro de pele. Isso tem levado a uma maior preocupação em encontrar formas de proteger a pele da radiação e a um aumento da popularidade da utilização de filtros solares – os chamados Protectores Solares.


Será que são eficazes a proteger a pele da radiação solar?
Apelidam-se de “Protectores solares” às substâncias sob a forma de cremes, leites, batons, sprays que têm a capacidade de absorver e/ou reflectir a radiação solar, impedindo que esta lese as células cutâneas. Classicamente dividem-se em orgânicos (químicos) e inorgânicos (minerais).

A eficácia dos protectores solares vai depender da sua capacidade real de reflectir ou absorver as radiações ultravioletas (B e A obrigatoriamente); estabilidade química do produto sob a acção dos raios solares (foto-estabilidade) e resistência à água e transpiração (remanescência do produto). E, muito importante, da quantidade de produto aplicada (que deve ser abundante). Para uma eficaz protecção solar deveremos então usar produtos com índices FTS superiores a 30, aplicá-los com frequência e em quantidade em todas as áreas de pele expostas à radiação solar. Quando aplicados correctamente, testes laboratoriais comprovam a sua eficácia protectora.

Mas isto levanta-nos uma outra questão importante: será que são isentos de riscos e seguros?
Quando falamos em riscos pretendemos saber: qual a absorção sistémica destes produtos; qual a sua capacidade de provocar ou desencadear alergias; será que são carcinogénicos (contém substâncias químicas indutoras de cancros de pele) e será que evitam ou (pior) desencadeiam cancro de pele?

Os conhecimentos científicos existentes até ao momento permitem-nos responder a estas questões com alguma confiança, existindo vários filtros solares no mercado que têm um bom índice de protecção UVB e UVA, são foto estáveis, pouco alergogénicos, com reduzida absorção sistémica e com um bom grau de remanescência, garantindo uma protecção razoável se correctamente aplicados (em quantidade e frequentemente).

No entanto, dois problemas se mantêm: por um lado, o seu uso incorrecto (índices de protecção baixos, má aplicação do produto, produtos sem protecção UVA) leva a uma protecção insuficiente e, por outro, a (falsa) segurança da sua aplicação (estou protegido com ecrã total!) origina exposições solares excessivas com todas as suas consequências. A incidência de cancro de pele continua a aumentar e pensa-se que e isso se deve, em grande parte, a esses dois factores.

Com a indicação para o uso liberal da aplicação dos protectores solares também um outro aspecto se tem vindo a revelar: o número crescente de alergias desencadeadas pela composição química dos produtos. São já várias as substâncias eliminadas quer pelo seu risco alergogénico, quer pelo seu potencial (mesmo que reduzido) carcinogénico.

É portanto essencial ter em mente que, se o uso de filtros solares faz parte das medidas de protecção solar que temos ao dispor (sendo importantes para proteger a pele descoberta no dia a dia, por exemplo), não é isento de riscos, e não substitui duas outras medidas de protecção fundamentais: a evicção da exposição solar nas horas de maior intensidade de radiação (das 12h às 16h) e a utilização generalizada de roupa, chapéus e óculos escuros de protecção sempre que necessário.

Compete a todos nós, dermatologistas, educadores e pessoal de saúde, informar e educar a população em geral no sentido de uma correcta e realmente eficaz Protecção Solar.



Leonor Girão
Assistente Hospitalar de Dermatologia no Hospital Militar de Belém
Direcção da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo