Agressão solar da pele por Osvaldo Correia


A incidência dos vários tipos de cancro da pele tem vindo a aumentar devido, essencialmente, à mudança de comportamentos a favor de uma exposição aos ultravioleta exagerada ou inadequada. A exposição solar lenta, progressiva e com protecção adequada poder ter vantagens clínicas mas a exposição repetida ou a abrupta e intensa além do fotoenvelhecimento precoce favorece os cancros da pele. Os praticantes de desporto ao ar livre constituem um grupo de risco e a sua sensibilização constitui o objectivo principal do presente artigo onde se desenvolvem as boas regras de convívio com o sol.


SOL E DESPORTO... compatibilidade ... se a horas correctas e devidamente protegidos
Um dia luminoso, mais até do que a exposição solar, traduz-se em comportamentos mais optimistas e exerce um efeito anti-depressivo. A exposição solar se lenta e progressiva e a horas adequadas pode ter efeitos benéficos em algumas dermatoses, como são exemplo os eczemas, sobretudo a psoríase, pelo seu efeito imunomodulador e imunosupressor. Mas uma exposição prolongada ou inadequada tem efeitos nefastos, cumulativos ao longo da vida, que se traduzem pelo fotoenvelhecimento, caracterizado pelo acentuar de rugas, manchas pigmentadas ou hipopigmentadas, fragilidade cutânea e risco acrescido de cancros da pele. A exposição prolongada e crónica, própria de actividades profissionais ao ar livre ou a prática repetida ou duradoura, eventualmente profissional, de desporto ao ar livre sem protecção adequada, favorece as queratoses actínicas (escamas recorrentes em áreas fotoexpostas) que são os precursores mais frequentes do carcinoma espinocelular. A exposição súbita e/ou esporádica mas intensa e a horários inadequados, ou em países tropicais, favorece eritema ou queimaduras solares que são frequentemente indutores ou de nevos atípicos ou de lentigos solares (tipo sarda) em áreas como o decote ou ombros quando não correctamente protegidos. Este tipo de exposição está mais associada ao carcinoma basocelular e ao melanoma. Estima-se que por cada queimadura solar o risco de melanoma é duplicado. A incidência dos diversos tipos de cancro da pele é crescente na maioria dos países. A necessidade de adoptar medidas de prevenção primária e secundária, de maneira persistente impõe-se. Os cancros da pele mais frequentes (carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma, por ordem decrescente de frequência), têm origem, em mais de 90% dos casos, na exposição exagerada e inadequada aos ultravioleta, não só ao Sol, mas ultimamente também à exposição a solários. A exposição exagerada aos ultravioleta origina o envelhecimento precoce da pele através de diferentes agressões no DNA de diferentes estruturas da pele, em particular nos melanócitos e queratinócitos que culminam frequentemente, anos mais tarde, no desenvolvimento de diferentes lesões pré-neoplásicas e de cancro da pele. A pele memoriza os choques térmicos inapropriados a que foi submetida e, mais tarde, frequentemente 5, 10, 15 anos depois, seja por predisposição genética ou por situações de imunodepressão emergem as referidas lesões neoplásicas. Está demonstrado que os praticantes de desportos ao ar livre (atletismo, ciclismo, triatlo, ténis, golf, desportos de praia, rio ou montanha) têm frequentemente um fotoenvelhecimento mais precoce, um passado frequente de queimaduras solares e um risco acrescido, significativo, dos vários tipos de cancro da pele (carcinoma espinocelular, basocelular e melanoma). 1,2,3,4 Os horários inadequados na prática de desporto, seja nos treinos ou competições, constituem um dos motivos mais importantes para o elevado número de queimaduras solares relatadas 1, 5. As razões parecem tratar-se de motivos comerciais, de marketing, sobretudo televisivo que há que denunciar e modificar para horários em que a sombra é predominante, ou seja antes das 11 h e depois das 17 horas, em particular no Verão. A protecção inadequada seja pelo tipo (muito poroso) ou design de roupa (ombros, braços, decote e até parte do dorso expostos), seja pela falta de uso de chapéu ou pela não utilização ou uso incorrecto de protector solar são responsáveis por um número elevado de queimaduras relatadas pelos atletas de desportos ao ar livre1, 5. O ciclismo, pelo horário e duração das competições e provas, época do ano, por vezes altitude, constitui dos desportos com maior risco. Não é de ignorar o risco das populações que aguardam a passagem de grandes eventos, como a “Volta a Portugal em bicicleta”5 frequentemente horas à espera sem protecção adequada. A pratica salutar de “caminhadas” ou desporto ao ar livre hoje, felizmente, enraizada na nossa população por razões de prevenção cardiovascular e endócrina, sobretudo, na obesidade, incorre nos mesmos riscos se a população não for devidamente alertada. A existência hoje cada vez mais frequente, no nosso país, de mini maratonas constitui um local predilecto de sensibilização ou prevenção primária do cancro da pele. Os praticantes de desporto ao ar livre com vários anos e/ou com antecedentes de comportamentos de risco e queimaduras solares deveriam ser sujeitos a despistes ou rastreios periódicos a fim de se diagnosticar precocemente cancros da pele ou monitorizar pessoas com pele de risco, sinais de risco (nevos atípicos) ou comportamentos de risco (número elevado de antecedentes de queimaduras solares). Há que lembrar que a maioria das pessoas têm vários sinais, cujo número é crescente com a idade e que, na sua maioria, são benignos. Há que reconhecer os fibropapilomas, angiomas, queratoses seborreicas, histiocitomas, quistos e lipomas como estruturas, habitualmente, sem risco oncológico. No entanto há que distinguir os nevos típicos (simétricos, de bordo regular, cor uniforme clara e estáveis) habitualmente sem risco de melanoma, dos nevos atípicos, pela regra do ABCDE (assimétricos, de bordo irregular, cor heterogénea ou muito escura, de diâmetro maior que 5 mm e sobretudo de evolução ou alteração recente). Estes nevos têm risco acrescido de evolução para melanoma, sobretudo em indivíduos com múltiplos nevos atípicos, por razões genéticas ou com passado de risco solar. Há que lembrar contudo que apenas 1/3 dos melanomas surgem a partir de nevos atípicos e os restantes surgem como lesão “de novo” em pele aparentemente sã, mas geralmente em áreas de antecedentes de queimaduras solares, lentigos solares ou acentuada exposição aos ultravioleta. Temos que ter atenção à lesão pigmentada de novo, atípica, frequentemente escura e necessariamente pequena quando surge, mas com comportamento activo e diferente dos outras frequentemente designada como “patinho feio” (ver figuras). O cancro da pele mais frequente é o carcinoma basocelular (mancha ou nódulo vascularizado, de crescimento frequentemente lento), seguido do carcinoma espinocelular (escama recorrente, ou nódulo que frequentemente ganha ferida que não cicatriza, que tem a sua origem frequentemente em queratoses actínicas) e depois o melanoma (sinal recente, geralmente muito escuro ou eventualmente róseo, com crescimento activo, diferente dos outros ou nevo atípico que sofreu alteração significativa da cor, contorno e dimensão).

Actualmente estima-se que, em Portugal, a incidência do Melanoma (o cancro de pele mais temível) seja 10 novos casos por 100.000 habitantes, por ano, o que significa cerca de 1000 novos casos, por ano. Quanto aos carcinomas (basocelular e espinocelular) mais de 100 novos casos por 100.000 habitantes o que representa mais de 10.000 novos casos por ano. Assim, os cancros de pele, em geral, representam o cancro humano mais frequente. Nos EUA dados recentes estimam que a probabilidade de uma pessoa, de raça caucasóide, vir a desenvolver um cancro de pele, ao longo da vida, seja de 1 em cada 5 pessoas!... A probabilidade de vir a desenvolver um melanoma, de 1 em cada 50 pessoas !!... O melanoma atinge frequentemente o adulto jovem, o que poderá tornar-se um importante problema de saúde pública se não se implementarem medidas eficazes de prevenção. Os cancros de pele podem, na sua maioria, ser curados. A excisão, habitualmente cirúrgica, do carcinoma basocelular e espinocelular é geralmente curativa. A não excisão, particularmente do carcinoma espinocelular, sobretudo das mucosas, por exemplo do lábio, mas também da pele, poderá predispor ao desenvolvimento de metástases. Se o melanoma for extraído numa fase muito precoce (pouco tempo de evolução, baixa espessura microscópica) a excisão alargada é frequentemente curativa. Para aqueles detectados já mais tarde poderá ser necessário pesquisar os designados gânglios satélites (gânglio(s) sentinela (s)) e, se positivos, propor várias terapêuticas adicionais, nomeadamente imunoterapia. Se o melanoma não é excisado, ou for detectado numa fase muito avançada levará à morte. A mortalidade global, por melanoma, aos 5 anos, na Europa Ocidental, ronda os 15%.


SOL E PELE, SABER CONVIVER...

Eis as regras para desportistas e não só ... Recomende ao seu paciente ...

• A exposição solar deve ser lenta e progressiva.

• Horas “seguras” são aquelas em que a nossa sombra é maior do que nós próprios (“regra da sombra”).

• Evite a exposição solar em horas de “risco” (entre as 12 e 16 horas e, idealmente, entre as 11 e 17 horas).

• Nos trópicos o “horário solar” é diferente, regule-se pela “regra da sombra”.

• Proteja-se na praia, piscina, montanha, quando faz desporto ao ar livre ou nas“caminhadas”.

• Use chapéu (de preferência de abas largas), óculos escuros, camisola (que proteja o decote e braços e de tecido não poroso). Na pele exposta utilize um protector solar, de textura adequada ao seu tipo de pele, de índice de protecção solar ≥ 30 e antes de sair de casa. Renove se molhou ou transpirou bastante. Não use o protector solar para prolongar exageradamente a exposição solar. Procure uma sombra e/ou vista uma camisola ao fim de 2 horas. Beba bastante água.

• É proibida a exposição solar de bebés com menos de 6 meses e evite a exposição directa de crianças com menos de 3 anos.

• Lembre-se que os de pele clara, olho claro, sardentos, que queimam facilmente e têm dificuldade em ficar morenos, necessitam de cuidados redobrados. No entanto, o ser moreno e não ficar vermelho não é sinónimo de estar seguro.

• Proteja-se mais e melhor se tem antecedentes pessoais ou familiares de cancro da pele.

• Nos dias de vento e nevoeiro o sol é matreiro, queima sem darmos conta ...

• Proteja-se adequadamente do Sol se possui manchas (melasma ou pano), se tem alergias ao sol ou se toma medicamentos fotossensibilizantes (pergunte ao seu médico ou farmacêutico).

• A exposição moderada e progressiva, em horas de sombra aumentada, pode estar aconselhada para melhorar várias dermatoses, sobretudo eczemas, pelos seus efeitos imunomoduladores, no entanto, consulte o seu dermatologista para orientação correcta

• A melhoria osteoarticular pode ser obtida pela hidroginástica ou fisioterapia adequada e nunca pelo aconselhar a exposição aos ultravioleta.

• Basta uma exposição solar diária de alguns minutos, em áreas limitadas do corpo, para uma normal produção de vitamina D, pela pele

• A exposição aos solários está perfeitamente desaconselhada (envelhecem precocemente a pele, favorecem aparecimento precoce de cancro da pele, não são seguros mesmo que usados com pouca frequência).

• Faça o auto-exame da pele com regularidade (em média de dois em dois meses).

• Se tiver qualquer dúvida em relação a um sinal que surgiu ou modificou, não hesite em consultar o seu DERMATOLOGISTA.

Esteja atento à sua Pele, não ignore um sinal que se modificou ...


DESPORTO NO VERÃO COM BOA PROTECÇÃO ...
Treinos, competição e lazer... o que saber?

Horas adequadas

• no início ou final de dia “sombra aumentada, hora apropriada...”

Vestuário

• pouco poroso, largo (as cores escuras devem ser opção quando tecidos mais porosos) e de design adequado (protecção do decote, ombro, braços e coxas).

Chapéu

• de grande pala ou, de preferência, de abas largas ou de tipo “legionário” que cubra o mais possível a face, as orelhas e o pescoço. Em desportos com capacete, idealmente com protecção complementar frontal, parietal e occipital.

Óculos escuros

• com protecção UVB /UVA 100%, grandes e largos.

Protector solar

• Índice de protecção solar ≥ 30; cerca de 30 minutos antes do início da exposição; Quanto mais fluído maior o número de camadas ou de reaplicações. Renovar de 2 em 2 horas ou antes, se molhou ou transpirou bastante; reforce particularmente nas zonas mais delicadas da face (regiões malares, nariz e labios) e pescoço.

Medicamentos

• muitos medicamentos são fotossensibilizantes (aumentam a sensibilidade da pele ao Sol e favorecem a queimadura solar), o que justifica cuidados redobrados com o Sol. São exemplos a maioria dos anti-inflamatórios não esteróides, alguns antibióticos, antidepressivos, medicamentos cardiovasculares, entre muitos outros.


Agressão solar:
sabia ou não sabia?

Prof Doutor Osvaldo Correia

Importância da altitude e das superf ícies reflectoras ...

• A intensidade dos ultravioleta (UV) aumenta com a altitude .

• A neve pode reflectir até 85% dos UV.

• 80% dos UV passam através das nuvens.

• 20% dos UV podem ser reflectidos na relva ou cimento.

• A areia seca reflecte 20% dos UV mas a areia molhada pode reflectir 40%.

• A água reflecte até 50% dos UV e mais de 50% dos UV atingem 50 cm de profundidade.

• Os vidros filtram bem os UVB mas permitem a penetração de parte dos UVA

 

As diferenças entre envelhecimento e fotoenvelhecimento...

• olhe e compare: uma parte íntima da pele com uma pele exposta frequentemente.

• a face interna do braço ou antebraço com a superfície exterior, veja as diferenças: mais manchas, mais rugas, mais “sinais/nevos”, na pele exposta do que na não exposta.

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